escrito por
felipe
publicado em
14 de outubro de 2020
Quantos cursos de storytelling prometem trazer a experiência das grandes histórias do cinema para o mundo das apresentações corporativas? Uma infinidade. A maioria fala de técnicas universais de narrativa que o cinema aprendeu das outras artes, em especial o teatro grego, e usou com sucesso em alguns blockusters famosos. Mas infelizmente, essas técnicas, pouco ajudam o executivo no momento de criar sua apresentação.
Primeiro porque da forma que essas teorias são expostas, em cursos de curta duração, pouco se aproveita. A maioria ensina a superfície de um conhecimento milenar, sistematizado primeiramente por ninguém menos que o filósofo grego Aristóteles, em seu livro “A Poética”. Vinte e dois séculos depois, muita água e discussão acadêmica e prática passou por debaixo da ponte e encaixotar a narrativa ocidental em um único conceito, o famoso storytelling, é no mínimo um equívoco grave. Segundo e mais importante porque, ainda que os cursos fossem de longa duração, com estudos importantes sobre a história da narrativa e estudos de filmes que usaram tal conhecimento, isso ajudaria parcialmente o executivo.
Apresentação corporativa tem particularidades que as outras linguagens não têm. Envolve um misto de emoção e razão não prevista no mundo da narrativa. Quando uma boa história é escrita ela não tem o objetivo explícito da venda de algo, ao passo que toda apresentação corporativa é uma venda de ideia, produto ou de conceito. Claro que a emoção que encontramos nas grandes histórias é bem-vinda em uma apresentação, mas qual passionalidade podemos encontrar em uma reunião estratégica que definirá os próximos três anos de uma empresa? Como comparar o plano de marketing de uma empresa do varejo com a saga de Luckie Sky Walter em jornada nas estrelas? Trata-se de um exercício de muita imaginação com poucos resultados práticos. E resultado prático é justamente o que toda e qualquer empresa procura.
Diante disso, fica a pergunta: em que o cinema pode inspirar uma apresentação corporativa? No conceito mais elementar do teatro grego: explorar um único tema por estória. Era assim nas grandes tragédias. É assim nos grandes blockbusters. De fato, o cinema usou (e usa) essa técnica com muita habilidade. O último vencedor do Oscar, O Parasita, é um ótimo exemplo. O filme trata de apenas um tema, a luta de classes. Um tema tão batido quanto a própria história da narrativa. O sucesso do filme está na criatividade do autor em encaixar o tema numa narrativa original. Mas é fato que em todas as cenas, sem exceção podemos extrair o tema proposto pelo autor. Fácil né? Não, muito difícil. Não ser explicito e enfadonho e ainda assim falar de um único tema é o desafio de escritores e dramaturgos há milênios.
Eleger uma única mensagem é, portanto, a maior inspiração que o cinema pode proporcionar a uma apresentação corporativa. A boa notícia é que, para o executivo, fazer essa escolha é muito mais fácil do que para um escritor. A mensagem é a própria razão da apresentação.
Seja o que for, uma nova ideia, um novo produto, uma nova ferramenta de gestão, escolha um único tema para sua apresentação. Feito isso, use a criatividade para falar de formas diferentes sobre a mesma coisa. Essa é magia que o teatro grego ensinou para o cinema. Esse é o legado que o cinema pode nos trazer.
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